sexta-feira, 5 de agosto de 2016

FLAUTA MÁGICA

                                                 FLAUTA MÁGICA
A velha viúva, acocorada ao lado do barraco, cuidava de umas plantas:
- Toca mais alto, fia! - pedia à única companhia que tinha agora.
- Sei não! - respondeu a menina, encabulada, mas contente pelo fato de a avó ter gostado da música que ela tocara na sua flauta azul, desafinada.
- Canta! Quem canta os males espanta! Canta bastante pra ocê ser feliz!
- Mas ainda não sei não!
(...)
- Deus queira que ocê seja flauteira, minha fia! ... É flauteira que diz? Sei lá!... Mas ocê vai ser sim que eu sei!... Posso não ta neste mundo quando acontecer, mas lá de cima, junto do nosso Pai, vô vê ocê tocando, toda bonitona!
(...)
- Eu quero ser! – respondeu a garota -, olhando o instrumento azulado, passando os dedos pelos orifícios e imaginando-se fazendo show e a plateia batendo palmas..
(...)
Olhou para a flauta. Pensou novamente no dia em que tocaria num palco, na TV, sua avó aplaudindo, as luzes iluminando tudo, a cortina cerrando-se, as máquinas fotografando e a plateia pedindo bis. Mas sua vó estaria viva sim! Ela estaria sentada na primeira cadeira e vestida com um belo vestido de flores, comprado exclusivamente para o momento.
Sonha uma vida melhor e tem certeza que conseguirá, através da música. Mesmo assim, não descuida dos estudos: quer se formar também:
- Vou ser veterinária e cantar pros bichos! - disse para a colega -, saindo de casa para brincar.
“Vou ser cantora de flauta!”, exclamou a si mesma, olhando os dedos.
- Oxe, como é que canta pros bichos, hein, louca?!
Riram as duas amigas, deram-se as mãos e foram se divertir na rua com outras meninas.
(...)
- Do livro de MARCOS PEIXE: OLHOS OBNUBILADOS - Crianças, adolescentes e crianças invisíveis deste país - 

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